Sunday, December 1, 2013

Piece of Art

Acendeu um cigarro e encarou a obra-prima que havia criado. Levou horas para alcançar um resultado satisfatório e havia sujado toda a sua roupa durante o processo, o vermelho se espalhando principalmente pela sua blusa branca e pelo rosto pálido, mas havia valido a pena. O resultado havia ultrapassado as suas mais elevadas expectativas.

Jullie era uma bela garota. Tinha a pele clara, os olhos castanhos e expressivos e o cabelo, igualmente castanho, caia em uma grande cascata por suas costas, formando pequenas ondas no final. Ela tinha um coração gentil, estudava direito e sempre ajudava estranhos a carregarem suas caixas terrivelmente pesadas até o carro.

Se ela soubesse que era nesse pequeno fato que estaria seu maior erro teria pensado duas vezes em todas as boas ações que havia feito durante a vida, mas ela não tinha como prever o futuro e não conseguia conter a bondade natural que guiava suas ações. Ele não havia sequer se esforçado, bastou um simples pedido seguido de um sorriso tímido e já a havia ganhado sem hesitação.

Deu uma longa tragada e suspirou.

O corpo se estendia pelo chão em um ângulo pouco natural, um pequeno contorno branco rodeando-o, feito com giz e exatamente igual àquelas séries criminais que assistia em suas madrugadas insones passadas junto à TV. Ela estava nua, o vestido branco que usara mais cedo jogado em algum canto escuro, coberta apenas pelo próprio sangue que havia secado e formado uma segunda pele.

Seu momento preferido sempre era quando elas percebiam aonde haviam se metido. A expressão de surpresa que tomava seus rostos apenas por instantes antes que o pânico se instalasse em cada fibra do seu ser. O olhar assustado e aterrorizado que ela lhe lançavam. Algumas suplicantes, outras orgulhosas demais para implorar.

Jullie era uma das que havia implorado. Havia suplicado e chorado um mar de lágrimas, enquanto os soluços faziam seu corpo tremer e sacudir. Era incrível como ela ainda parecia bonita mesmo quando seu rosto se desfigurava em pranto, permitindo que as lágrimas escorressem por sua bochecha e terminassem se acumulando em algum ponto do seu vestido branco.

Mas ela ficara ainda mais bonita agora que já não chorava ou se movia. A última expressão de sua alma eternizada naquele frágil corpo fazia tudo parecer especial. Único. Era como se eles estivessem conectados por algo que ultrapassava os limites da vida. Uma sensação que ele não conseguia explicar e que certamente não cabia em palavras.

Ele apenas ficava ali, parado, tragando tranquilamente seu cigarro com as mãos sujas de sangue, encarando seu mais recente trabalho por horas a fio. E enquanto analisava cada corte que havia feito na jovem – cento e vinte e três ao todo, ele sempre contava – e as diversas tonalidades e padrões que o sangue seco em seu corpo formava, ele sentia como se tivesse se aproximado um pouco mais da perfeição.
Ela era como o próprio Sol, sua luz iluminava tudo ao seu redor e até os cantos mais obscuros eram atingidos por ela, embora você jamais conseguisse encará-la nos olhos por mais que alguns segundos sem atrair a cegueira, tampouco tocá-la sem se queimar.

Assim como o Sol ela pairava imponente acima de todos, inalcançável.

Tão essencial e tão sozinha.

Sunday, November 24, 2013

Nobody said it was easy

Abriu a porta do quarto e imediatamente se jogou na cama, sem se preocupar com os papeis que amassaria no processo, poderia lidar com eles depois, tudo que ela queria agora era chorar. Era pedir muito? Há um tempo atrás seria uma tarefa fácil, ela costumava chorar com frequência, por cada coisinha que lhe acontecia, cada discussão, cada desilusão, cada dia ruim. E escrevia. Perdia horas trancada naquele quarto minúsculo e escuro, o computador ligado, uma playlist especial tocando nos fones de ouvido e os dedos trabalhando freneticamente para se livrar de todo o peso que havia em seu corpo e em sua alma. Tudo aquilo que a pressionava, retorcia e mutilava era transformado em palavras. Só parava seu pequeno ritual de purificação por breves instantes para limpar as lágrimas que embaçavam sua visão e depois continuava, páginas e páginas e páginas. Páginas de dor. As lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto, sem vergonha ou culpa, quase como um suspiro de alívio.

Mas naquela época ela costumava ser alguém diferente. Alguém cujos sonhos ainda viviam mesmo com toda a desgraça que ocorria ao seu redor. Alguém que vivia no inferno, mas não se deixava corromper por ele.

Esperança.

Engraçado o que um sentimento assim consegue fazer com uma pessoa. Ela encara todos os obstáculos, por mais frágil que seu corpo maltratado seja, sem nunca desistir ou se render, porque sabe que depois da tempestade dias melhores virão. Tinham que vir. Afinal, tinha que existir algo depois daquilo, um local seguro no fim da estrada, um plano maior. No fim, quando ela tivesse passado por toda a miséria, fome e desespero, ela seria recompensada pela sua resistência e então tudo teria valido a pena.

Ingenuidade de alguém que ainda não havia vivido o bastante para testemunhar nem mesmo um terço de toda a maldade que existia no mundo. Hoje ela já não cometia esse erro, não depois de anos presa no mesmo lugar, suportando as mesmas coisas, sem nenhuma luz no fim do túnel. Aquela era sua vida e não havia nada além daquilo, nenhum lugar seguro no fim da estrada – não havia nem mesmo uma estrada –, nenhum plano maior.

Não havia nada, nem mesmo lágrimas. Já não havia mais nada para escrever porque o sofrimento havia se transformado nela. E ela já não era nada mais, apenas a dor que permaneceria mesmo quando levantasse daquela cama bagunçada e voltasse para a realidade, fingindo ainda estar viva.

Monday, August 19, 2013

Denise Marie Naslund¹

Abro os olhos e a luz intensa me cega momentaneamente. Branco. Tudo é tão claro aqui, o meu sangue é a única cor do local. Ele está espalhado pelas paredes, pelo chão e pelo lençol que cobre parcialmente meu corpo. Ele vai do vermelho vivo ao vermelho ferrugem, passando pelo vermelho escuro como vinho. Todas as tonalidades se misturam e o cheiro, sempre tão intenso, parece preencher o ar abafado e frio da pequena sala.

Minha cabeça dói. Minha visão está embaçada, como se tudo estivesse fora de foco, distante. Meu pensamento está lento e eu só percebo as algemas quando tento me mexer e elas me seguram no lugar. Então tudo volta, em flashes. A tortura, o horror. O hálito suave e frio no meu pescoço, o peso do corpo dele em cima do meu. Os cortes. É como se tudo estivesse acontecendo de novo. Sinto como se fosse vomitar.

Minha cabeça lateja cada vez mais forte e eu tenho dificuldade para respirar. Tento me acalmar e regular a respiração até que eu recupere o controle, não posso ter outro ataque de pânico aqui. Mas, como se meu corpo sentisse prazer em me contradizer, começo a chorar. Preciso me controlar, preciso pensar racionalmente, mas as lágrimas não obedecem ao meu comando e continuam a cair freneticamente.

Aposto que foi exatamente isso que todas aquelas garotas que apareceram no jornal fizeram. Choraram. Imploraram pelas suas vidas, entre os soluços. E agora elas estão mortas. Seus corpos foram jogados em um rio qualquer, onde elas ficaram boiando por dias e dias até que a polícia as encontrasse. Depois foram parar em um necrotério qualquer, onde foram abertas – mais um corte para a coleção –, reviradas ao avesso até que se chegasse a uma conclusão: mortas por asfixia. Então, esperariam sobre a maca de metal até que algum familiar viesse reconhecer o corpo. Algumas papeladas burocráticas até que fossem liberadas e enterradas, provavelmente no mesmo cemitério que o resto dos parentes mortos. E então, elas não eram mais nada. Apenas mais uma na lista de um serial killer maluco.

Sinto raiva, mas isso é bom, porque significa que eu consegui me controlar o suficiente para canalizar minha energia em alguma coisa que não seja o terror. Odeio-o. Odeio-o com tonta a força que ainda me resta. Odeio como todas aquelas garotas que tinham a vida inteira pela frente foram mortas por um capricho. Uma compulsão, os livros diziam, como se ele não passasse de um animal que não consegue controlar seu instinto. Como se tivesse algo o obrigando a fazer aquilo. Não! Claro que não. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Gostava de fazer aquilo, gostava de ver a dor estampada nos rostos de suas vítimas, gostava da caçada, do assassinato. Ele provavelmente havia fantasiado aquilo milhares e milhares de vezes na sua cabeça doentia antes de sequestrá-las.

Mas o mais injusto disso tudo é que no final é ele quem vai entrar para a história, que vai ter o nome em revistas, livros e, até mesmo, em filmes. É a mente dele que os psiquiatras e psicólogos vão tentar entender. Ele que vai receber milhões de cartas na prisão, metade delas desejando sua morte, mas metade admirando seu trabalho. Isto é, se ele for preso. Os que conseguem escapar são ainda mais famosos. Afinal, quem nunca ouviu falar do Jack, o estripador ou do Zodíaco?

Eles vivem no imaginário popular por anos, décadas, séculos. Enquanto todas as vítimas – que foram torturadas, estupradas, mutiladas, decapitadas, estripadas – são esquecidas, jogadas a sete palmos abaixo do chão e deixadas lá, sozinhas, nos braços do tempo. Eventualmente o passar dos dias “cura” suas feridas, é claro. A decomposição dos seus corpos apaga as evidências da tortura, mas apaga também quem elas foram. Suas risadas, seus olhos, suas expressões. Nada disso permanece. Ele tirou tudo delas, suas personalidades, seus corpos, suas vidas. Fez com que seus últimos momentos de vida não fossem nada mais que dor e desespero. Horror. Medo. Até que, por fim, fizera com que elas desejassem a morte, apenas para que a dor fosse embora e não tivessem que sentir mais aquilo.

Onde elas estão agora? Será que imaginaram que iriam para o céu? Que finalmente descansariam em paz quando tudo aquilo acabasse? Eu não sabia. Ninguém poderia saber.

Meu choro parece uma canção de ninar, leve e suave. As lágrimas, que antes machucavam tanto quanto a faca fria que abria minhas feridas, agora são apenas um pesar conformado. Impotência, o pior sentimento do mundo. Não há nada que eu possa fazer além de chorar pela vida que eu tinha e que morre lentamente conforme o passar dos segundos, junto com tudo o que ele roubou de mim.

Ouço um click e a porta se abre. E percebo que eu sou uma daquelas garotas.

¹Uma das vítimas de Ted Bundy. Ela tinha 19 anos e foi sequestrada em 14 de Julho de 1974

Sunday, July 14, 2013

Sobre lugares aos quais não pertencemos.

Ela não gostava das pessoas de sua cidade. Talvez porque não gostava da própria cidade e lhe parecia lógico não gostar da pessoas que ali viviam, já que uma cidade é feita por muito mais do que seu terreno ou sua posição geográfica, é feita por seus habitantes. Por seu governo também, é claro, mas o que seria o governo se não um punhado de pessoas de uma cidade?

Bem, o fato é que ela nunca gostou nem das pessoas, nem da cidade. Nada ali lhe agradava. Desde sua infância ela sempre sentiu uma aversão profunda e verdadeira pelo local onde nascera, a ponto do pensamento ter se enraizado tanto em sua cabeça, ao longo dos anos, que era impossível ver uma qualidade sequer naquele pedaço de mapa. Ela só via os defeitos. As ruas que eram esburacadas e sujas, os prédios históricos eram acabados e abandonados, o governo era corrupto e a má educação parecia contagiar todas as pessoas na hora de pegar transportes públicos: ninguém esperava os passageiros descerem antes de se forçarem para dentro do veiculo ou cediam o lugar a uma pessoa de mais idade ou alguém carregando sacolas pesadas. Não havia exposições de arte, museus ou show de bandas famosas. Não havia opções de lugares acessíveis para se divertir. Poderia-se até dizer que era um lugar esquecido por Deus.

Mas curiosamente havia pessoas que gostavam de morar ali. Ela não conseguia entender, de verdade. Durante todos os seus anos de vida havia detestado tanto aquele lugar que não entrava na sua cabeça que alguém pudesse nutrir sentimento oposto. Não fazia sentido. Como aquelas pessoas conseguiam se contentar com uma vida daquelas? Bem, não importava de verdade. Não cabia a ela julgar as motivações e afeições dos outros, apenas cuidar das suas. Que todos aqueles que gostavam daquele fim-de-mundo continuassem ali, felizes e satisfeitos com suas vidas. Ela não conseguiria. Acharia um jeito de sair dali o mais rápido possível, antes que enlouquecesse.

E ela sentia que já estava ficando maluca, só que de tristeza. Às vezes ela acordava de manhã e ao lembrar de onde se encontrava não tinha vontade nem de levantar da cama. Muitas noites ela chorara em desespero, sabendo que não poderia ir embora tão cedo. Seus pais diziam que ela era muito nova, muito dependente, muito inexperiente. Ela teria que crescer primeiro, atingir alguma estabilidade financeira, para só então começar a planejar sua fuga. Fuga. Poderia parecer exagero, mas tudo o que aquela cidade representava para ela era uma prisão, algo que a impedia de atingir sua liberdade, que lhe afastava do mundo que queria viver, conhecer e experimentar. Ela mal podia esperar sair pela porta velha da casa que vivia com sua família e nunca mais voltar. Não sentiria falta. Não da casa, ao menos. Talvez sentisse falta dos seus familiares, já que comparado com o resto das pessoas dali eles eram legais. Boas pessoas. Mas ela não sacrificaria a própria felicidade para permanecer junto deles. Não venderia sua liberdade nem pelas pessoas que amava.

Assim que ela tivesse colocado seus pés para fora daquele local horrendo ela finalmente seria feliz, sabia que seria. Tinha que ser. Ela se mudaria para uma cidade nova e conheceria pessoas realmente legais, pessoas que iriam entendê-la, e faria amigos. Poderia ir para todas as exposições de arte, museus e shows que quisesse. Andaria em ruas limpas e as pessoas seriam educadas. Ela talvez até levasse sua família para morar naquele lugar bonito. E quando eles tivessem todos juntos naquele lugar mágico, já não brigariam ou se desentenderiam mais. Afinal, não teriam do que reclamar, seriam completamente felizes. Estariam na mais absoluta paz e harmonia.

Ao menos, era isso que ela pensava aos dez anos.

Aos quatorze essa imagem de perfeição começou a ser manchada pelo contato com pessoas de outras localidades, que eram tão infelizes quanto ela, e por uma consciência crítica mais apurada. Ela não era mais tão sonhadora assim, sabia que existiam lugares bem piores que aquele que nascera, mesmo que isso não tornasse sua realidade mais suportável.

Aos dezoito, quando ela finalmente terminou a escola, já não tinha mais grandes esperanças. Sua situação financeira não melhorara e ela descobrira que crescer não havia sido o bastante. Ela teria que trabalhar, juntar dinheiro e planejar. E fez tudo isso, mas a cada dia que passava sua tão esperada fuga parecia mais distante e borrada, esquecida em meio as brumas do tempo.

Aos vinte cinco anos, ela finalmente desistiu de plano tão descabido, se conformou com a vida que levava e se convenceu de que mesmo que se mudasse de cidade seus problemas não sumiriam. Que aquela vida luxuosa e feliz que via nas novelas nada mais eram que ilusões, que o mundo era assim mesmo, cheios de ruas esburacadas, cidades mal cuidadas e pessoas infelizes.

Aos quarenta, ela comprou uma casa, no mesmo bairro que seus pais moravam, e finalmente se livrou do aluguel. Viveu uma vida desbotada naquela cidade que tanto odiara. Já não tinha forças para sair dali. Já não tinha forças nem mesmo para odiar.

N/A: 30 Days Writing: Day 17 — Descreva um lugar ou alguém que não goste.

Saturday, July 13, 2013

Além da salvação

O que realmente a incomodava em psicopatas era o quanto eles eram convincentes. Educados, gentis, com bons modos. Era até mesmo difícil imaginá-los prejudicando, machucando ou até mesmo matando alguém, era difícil se fazer acreditar que nada do que eles demonstravam era verdade, que tudo não passava de fingimento – um fingimento de altíssima qualidade – e que na verdade eles não sentiam nada daquilo. Nenhuma empatia. Nenhum sentimento. Nada. Eram completamente vazios.

Mas eles usavam aquela qualidade que não possuíam ao seu favor. Eles te faziam sentir empatia por eles e obtinham sucesso todas as vezes. Afinal, olha para a maneira bonita como ele fala, sempre tão arrumado, tão educado. Como alguém assim pode ser mal? Como pode me prejudicar?

Bem, eles podem. Quando você menos esperar você vai estar chorando no meio de um apartamento vazio e com a conta bancária zerada. Talvez, mas não era tão comum como os filmes de TV faziam parecer, seu corpo até mesmo fosse encontrado em algum beco escuro e esquecido por Deus.

Era nisso que tinha que se focar, nas consequências que baixar a guarda lhe causaria, mesmo que fosse apenas por algum segundo, um milésimo de segundo. Tinha que se manter sempre firme e focada. Era isso que a fazia uma boa investigadora, no final das contas.

Ela podia lidar com todos eles, com os que gritavam e tentavam lhe atirar coisas, com os que ameaçavam sua vida, com os que negavam e com os que ficavam calados por horas a fio. Mas era sempre desconcertante lidar com os educados. Com os que mantinham o sangue frio tanto quanto ela. Eles lhe causavam verdadeira dor de cabeça e a levavam a exaustão, tinha que ser mil vezes mais esperta, pois sabia que eles se mantinham atentos a todas as suas palavras, prontos para as usarem contra ela, como se ela fosse a interrogada ali e não eles.

Ah, perdera a conta das vezes que havia perdido a paciência quando era mais jovem. Já havia perdido a compostura, xingado e até mesmo, em um acesso de fúria descontrolada, tentado agredir um suspeito. Já havia sido tirada da sala de interrogatório à força, enquanto ele mantinham um sorriso divertido no rosto, zombando de sua fraqueza. “Acalme os seus nervos e volte daqui a algumas horas” o seu superior costumava lhe dizer, contrariada ela obedecia e saía chutando a primeira coisa que encontrava pela frente, a raiva borbulhando dentro de si com uma fúria capaz de devastar o país inteiro.

Mas se alguma coisa tinha lhe servido todos aqueles anos no FBI havia sido para lhe dar total controle sobre suas emoções. Depois de tanto quebrar a cara, ela finalmente havia aprendido a não se importar. Hoje, quando ela entrava em uma sala de interrogatório, sabia lidar até mesmo com o mais charmoso Ted Bundy. Sabia entrar nos jogos deles, pensar como eles – e às vezes se perguntava com um leve desespero se estaria se tornando como eles –, sorrir cordialmente e manter a classe.

Os anos a haviam endurecido de tal forma que nem mesmo os crimes mais hediondos lhe chocavam, ela poderia lidar com o próprio Hannibal Lecter sem nem mesmo piscar. Ela havia dedicado sua vida para aprender todos os truques daqueles monstros, para entrar em suas mentes, pensar e agir como eles. Em cada pessoa via uma vítima em potencial, em cada local uma cena de crime, em cada atitude suspeita um possível assassino.

Já não havia mais volta.

Ela olhava para os retratos de dez anos atrás e não reconhecia a menina sorridente e despreocupada que fora um dia. Agora tudo o que ela via eram sombras por todo lugar. Seu mundo colorido havia se tornado negro e as pessoas, antes tão alegres e vívidas, não passavam de seres mesquinhos e capazes dos atos mais vis e desumanos.

E se quando adolescente ela havia sido uma jovem ambiciosa que queria mudar o mundo, acreditando que no fim o bem sempre vencia o mal, hoje ela nada mais era do que uma adulta cansada que havia perdido completamente a fé na humanidade. Hoje ela olhava o mundo pelos olhos dos assassinos, psicopatas e loucos. E já não havia nenhuma beleza nele. Para cada serial killer que ela colocava atrás das grades havia mais duzentos e noventa e nove ativos só nos Estados Unidos.

Era desesperador. O mal crescia em cada canto escuro, em cada sombra e preenchia tudo. Ele triunfava diariamente. Porque a verdade era que aquele mundo que ela queria tanto salvar já estava perdido. E a batalha já havia sido perdida há muito, muito tempo, mesmo antes dela nascer.

Não havia mais nada a ser salvo.

Para aproveitar a vibe:

"Why do they blame me for all their little failings? They use my name as if I spend my entire day sitting on their shoulders, forcing them to commit acts they would otherwise find repulsive. 'The Devil made me do it.' I have never made one of them do anything. NEVER. They live their own tiny lives. I do not live their lives for them. And then they die, and they come here (having transgressed against what they believed to be right), and they expect us to fulfill their desire for pain and retribution. I don't make them come here. They talk of me going around and buying souls like a fishwife come market day, never stopping to ask themselves why. I need no souls. And how can anyone own a soul? NO. They belong to themselves... they just HATE to have to face up to it." Lucifer - The Sandman: Season of Mists, Neil Gaiman

Corpse Bride

Ele sempre gostou de cadáveres. Mas não se preocupe, essa não é uma historia sobre assassinatos, nem mesmo sobre um serial killer louco e perigoso, pois, apesar do seu gosto peculiar, William nunca havia tirado a vida de ninguém, nem mesmo de animais. Nem precisava. O cemitério em que seu pai trabalhou como coveiro durante boa parte de sua infância e adolescência era cheio deles, todos os dias eram realizados os mais diversos tipos de enterros: homens, mulheres, jovens, idosos, gente de todo tipo e todas as classes sociais. Eles se estendiam por quilômetros abaixo daquela grama verde e bem cuidada, esquecidos por todos, mas não por Will. Ele crescera correndo e brincando por toda a extensão daquele velho cemitério conhecia todos os habitantes dali. Era, inclusive, o mais perto de amigos que ele jamais tivera.

Desde a mais tenra idade o cheiro de formol presente nos corpos embalsamados lhe causava uma estranha sensação de paz. Era o cheiro de casa, do lugar do qual ele pertencia. Talvez tenha sido essa criação tão incomum a responsável pelo desenvolvimento dos hábitos estranhos que adquiriu durante a vida adulta, mas ninguém tinha como saber ao certo e ele não se importava com as causas ou motivos, só sabia que era daquele jeito e que sempre seria.

Por isso, assim que atingiu vinte anos conseguiu um trabalho como assistente de legista em um necrotério na periferia da cidade e se afastou do cemitério onde havia passado a infância. As tardes a céu aberto com longos discursos, roupas pretas, lágrimas intermináveis e terra, muita terra, agora eram preenchidas dentro de uma sala pequena. Claustrofóbica para todos os que não eram dali, mas para William aquela pequena sala de paredes brancas, frias e impessoais havia se tornado rapidamente seu segundo lar.

Pois apesar do silêncio mortal, ele nunca estava só. Ainda tinha a companhia de seus tão queridos cadáveres, mesmo que não fossem os mesmos de antes, mesmo que o tempo que passavam juntos fosse menor. Havia se acostumado rapidamente com os novos amigos que encontrou ali, amigos que iam e vinham, já que dificilmente um corpo permanecia mais do que três ou quatro dias no necrotério, mas que eram tão queridos quanto seus amigos antigos. De fato, aquela sala proporcionou uma intimidade que ele não tinha em seu lar anterior, onde eles sempre eram separados por montes e montes de terra. Havia algo de mais especial naquele lugar, mais íntimo. Ele podia tocar, cheirar, apalpar e o que mais gostava de fazer, quando estava sozinho, era deslizar os dedos pelos corpos novos que chegavam, para sentir a textura e a dureza daquela pele azulada.

Ah! E aquela pele gélida fazia calafrios descerem por sua espinha. Os corpos eram sempre lindos não importando a causa da morte, ele aprendera a ver a beleza de furos de bala e corte de facas da mesma maneira que em infartos e overdoses de drogas. Sentia uma excitação crescente ao mínimo som do choque entre os instrumentos esterilizados, que só não era melhor que o rasgar silencioso que as lâminas faziam quando penetravam a carne pútrida e morta. E quando o legista chefe o deixava chegar perto dos corpos com um bisturi na mão era como se Will atingisse o êxtase. Ele sabia que era o único que se sentia assim, que todos os outros achariam seu trabalho, no mínimo, macabro e doentio, mas era tudo o que ele sempre quisera fazer na vida.

E então, quando achava que não poderia ficar melhor, ela chegou. Cinza, rígida e fria. Nunca descobriu seu nome, já que era um desses corpos sem identificação encontrados em becos escuros e lugares onde nenhum cidadão decente frequentava. Essa, em especial, havia morrido por overdose de drogas. Durante algum momento de sua breve vida havia experimentado heroína e sucumbido ao prazer rápido e fácil que a droga lhe proporcionava. Seu rosto ainda conservava a última expressão que havia feito, um misto de prazer e terror. Ela deve ter percebido, em meio as viagens proporcionadas pelo vício, que daquela vez havia exagerado. Talvez, quem sabe, tivesse tido tempo de tomar consciência da própria morte antes que a droga finalmente fizesse seu corpo colapsar.

Mas não importava agora, ela estava morta e tudo que Will conseguia pensar é que ela era a mulher mais bonita que ele já havia visto. Sua pele ainda não estava tão azulada, nem tão decomposta, e seus cabelos negros criavam um contraste harmonioso com o resto de seus traços. Seus olhos estavam vazios e sem foco, é verdade, mas ele conseguia visualizar os expressivos olhos castanhos que ela havia possuído em vida. Os pálidos lábios carnudos deviam ter sido de um vermelho vivo e o vestido curto e vulgar que usava quando chegou ali deveria ter sido a mais poderosa arma de sedução já criada.

William sentiu uma pontada em seu baixo ventre. Deslizou os dedos por seu braço inerte delicadamente, mas parou a caricia abruptamente assim que a porta foi aberta e o médico legista entrou no aposento, indiferente a presença de seu assistente. Ele havia tirado folga fora de época, deixando Will encarregado de boa parte das tarefas do necrotério, e agora havia acumulado autopsias, de modo que só poderia mexer naquela garota dali a cinco dias.

Cinco dias. Parecia a contagem para sua execução. A simples idéia de ter alguém tão medíocre cortando e mutilando aquele corpo perfeito fez Will entrar em pânico. Como ele poderia deixar o corpo dela ser profanado de tal forma? Não, não poderia. Foi então que, de modo impulsivo, decidiu que a roubaria. Era isso! Ele entraria na calada da noite e tiraria sua amada das mãos daqueles idiotas incompetentes. Se ela permanecesse consigo ninguém nunca mais lhe machucaria ou lhe faria mal, ele cuidaria dela da melhor forma que conseguisse. Eles seriam felizes juntos, sabia que sim.

Mas até então ele não poderia imaginar que não havia maneira de salvá-la. Que nem mesmo todo o seu amor seria capaz de impedir que seu corpo se deteriorasse. Afinal, assim que a vida é sugada seu receptáculo começa a apodrecer. Era um processo natural e inevitável. E nenhum dos enterros que assistiu durante o decorrer de sua vida lhe doeu tanto quanto a consciência daquele fato. Ele sentia seu coração pesar ao pensar que ela perderia aquela bela forma e viraria um monte de carne fétida e pútrida. Irreconhecível.

Ainda assim, Will não conseguia deixar de amá-la. Nem mesmo as reclamações dos vizinhos acerca do cheiro que saía de seu apartamento conseguia aborrecê-lo. Ele não se importava com cheiro, não enquanto pudesse ficar com ela. Mas vê-la se deteriorando mais e mais a cada dia que passava fazia algo dentro dele morrer ao poucos. E quando ele percebeu que em algum momento já não restaria nada dela, entrou em desespero. Não aguentaria o sofrimento. Mas tampouco era capaz de abandoná-la.

Ele sabia que a única solução para por um fim na sua dor era juntar-se a sua amada na morte.

Foi com grande determinação que ele pegou a pistola escondida debaixo do colchão e sem nenhuma hesitação colocou o cano na boa, dando uma última olhada para ela antes de apertar o gatilho. Foi simples assim, um estampido e tudo estava acabado. Ele finalmente se juntaria não só a sua amada, mas a todos os amigos que já tivera na vida.

Foi nos últimos instantes, enquanto perdia a consciência e sangrava no chão do quarto, que Will finalmente conseguiu ultrapassar a barreira que o separava de todos os que amava e conseguiu alcançar a verdadeira felicidade. Porque agora ele sabia: nunca houve nada que ele tivesse desejado tanto quanto morrer.

Wednesday, July 10, 2013

Day 22 — Someone you want to give a second chance to


Eu sabia que acabaria falando de você em algum momento. E se eu for sincera, sabia que seria exatamente nesse post. Porque você foi minha melhor amiga e, ao contrário das outras que ocuparam o cargo antes, a que mais me deixou saudade.

Eu lembro das nossas conversas, de como a gente costumava conversar o dia todo, o tempo inteiro, sobre qualquer coisa. Eu lembro da sua voz cantando uma música qualquer no skype. E lembro de você de cabelo vermelho (minha eterna rita lee), de cabelo loiro e de cabelo preto. Eu lembro de você de várias formas. E cada vez que lembro sinto uma dorzinha lá no fundo porque queria aquele tempo de volta. Queria continuar próxima de você.

Aliás, nem sei porque a gente se afastou, só sei que aconteceu. Não sei de quem foi a culpa, mas durante muito tempo achei que tinha sido minha. Hoje já penso que a culpa é da vida, sabe. Que as pessoas vem e vão e temos que nos acostumar com isso, porque o mundo não vai parar para que possamos lamentar pelo que foi perdido.

Mas eu tenho vontade de voltar a falar com você como antes, de ser sua amiga como antes. Afinal, foi para você quem eu mandei a minha primeira carta, cheia de brilho e canetas coloridas e acho que tinha até um desenho mal feito. E não conta pra ninguém, mas ainda guardo o recibo dessa carta na carteira, a tinta já saiu e atualmente é só um papel amarelado, mas ele continua importante. Assim como você.

Porque você pode até estar morando em outro país agora, pode até ter novos amigos, piores e melhores do que eu fui, mas saiba que você vai ser sempre ser ichiban.

Com amor,
Miih

A letter

Ei, sis. Como você está passando?

Sabe, outro dia eu estava me lembrando de quando prometemos que nunca deixaríamos que ninguém nos separasse. Você lembra? Aposto que sim. Dizíamos que ficaríamos juntas para sempre e, quem sabe, a gente até dividisse o mesmo namorado que nem aquelas gêmeas de filmes faziam. Hoje parecem promessas bobas, não é? Como se só porque nascemos no mesmo dia e na mesma hora estivéssemos destinadas a permanecer juntas. Porque se você parar para perceber, vai ver que nós nunca fomos iguais. Na verdade, fomos crescendo e nos tornando o verdadeiro oposto uma da outra.

Ainda me lembro de todas as vezes que você ficava chateada por eu bagunçar o nosso quarto, dos sermões que você me dava quando eu tirava uma nota baixa. Queria que as coisas tivessem continuado simples como eram naquela época, sabe? Queria que a única coisa que nos separasse fosse um quarto bagunçado ou um D em algum prova idiota. Mas tudo ficou tão maior que isso.

Não lembro exatamente quando a nossa promessa se quebrou. Talvez tenha sido quando você ficou do lado dos nossos pais, e não do meu, pela primeira vez. Talvez tenha sido quando eu comecei a andar com aqueles... Como era mesmo que você chamava?... “Punks”. É, acho que era isso. Ou quanto eu pintei o cabelo de rosa e a primeira coisa que você disse foi “Nossa, tá horrível!” e eu tive vontade de rir para não chorar, mas tudo que fiz foi jogar o travesseiro na sua cara.

Porque sabe, costumava ser nós duas contra o mundo. Sempre foi assim. E eu só aguentei tanto tempo naquela casa idiota porque ainda tinha você e eu achava, muito inocentemente, que sempre teria você. Mas o laço que nos unia, que sempre pareceu tão firme e inquebrável, foi se afrouxando aos poucos, até se soltar de vez. Eu sei que parece que foi de uma hora pra outra, que um dia eu acordei e descobri que não conhecia a pessoa que dormia ao meu lado, mas não foi. E quem sabe, se eu tivesse prestado mais atenção, perceberia que todas as nossas brigas nada mais eram do que a natureza mostrando que apesar de termos a mesma aparência nós éramos pessoas incompatíveis.

Mas eu não quis acreditar. Eu fechei os olhos completamente para o nosso lento distanciamento e só abri, assim de uma vez, como quem leva um susto, quando você decidiu virar as costas para mim.

“Não”

Foi tudo o que bastou. Nem lembro direito o que veio depois, provavelmente algo como “Você ficou maluca? Eu não vou fugir de casa com você”, mas o complemento da frase não machucou tanto. Foi aquele “não” que desabou nas minhas costas com todo o peso do mundo. Foi aquele “não” que me fez perceber que eu estava sozinha. Pela primeira vez na vida. E o que eu fiz? Eu fugi. Eu realmente fugi como disse que faria, mas te deixei para trás.

Mantive-me longe todos esses anos. Não porque eu não tenha sentido falta (porque você sabe que senti, como espero que você tenha sentido também), mas porque não fazia ideia de como me reaproximar. Não sabia nem se queria. Porque, no final de tudo, talvez eu fosse um pouco rancorosa.

Isso fez com que eu passasse horas e horas olhando para essa folha de papel em branco pensando no que escrever. Em dúvida se me desculpava ou exigia desculpas. Mas qual a diferença que uma simples palavra pode fazer depois de tanto tempo, tantos anos? Não. Não vou exigir desculpas (nem pedir) como se isso resolvesse e apagasse tudo, porque o mundo não é assim e acho que nós já aprendemos isso.

Nós não ficamos juntas para sempre, nem dividimos nenhum namorado. Mas o amor que eu sinto por você continua aqui, mesmo que velho e desgastado. Espero que ele ainda esteja ai também.

E o que eu queria nessa carta era que a gente tirasse um pouco ele daquela gaveta feia e sem brilho no qual o trancamos e tirássemos o pó. Até, quem sabe, ele voltar a bater um pouquinho. Porque ele não morreu, Allison. E nunca vai morrer.

Porque irmãs são pra sempre.


Com amor,
Addison


Esse post faz parte do 30 days writing.
Dia 10 — Escreva uma carta.

Monday, April 1, 2013

And run from them

With no direction
We'll run from them, from them
With no conviction

Era sempre assim. Uma cidade atrás da outra. Um emprego temporário qualquer, pessoas que não conhecia além das saudações formais, uma cidade viva e pulsante sobre os seus pés, desconhecidos em cada esquina, sotaques novos, vozes excitantes, indiferentes, entediadas, ocasionalmente um vizinho barulhento, um prédio em um bairro medíocre, um apartamento apertado e praticamente vazio.


Encarou a janela de seu novo apartamento e se perguntou quando aquilo começou. O que exatamente a havia feito parar ali? Não sabia dizer onde começava, quando dava por si já havia comprado uma nova passagem para a sua próxima aventura. Aventura, dizia a si mesma, é apenas por isso, você queria a emoção que ficar parada em um só lugar não proporcionava, queria conhecer novas pessoas – mesmo que nunca chegasse a conhecê-las realmente, o tempo era curto demais –, ver lugares novos, ter uma vida nova, talvez. Virara uma tradição, quando cansava do local que estava simplesmente escolhia uma cidade aleatória do mapa, arrumava os poucos pertences que tinha – que cabiam perfeitamente em uma mala pequena – e partia. Simples assim.


Alguns diziam que partidas eram complicadas, mas você sempre achou a parte mais fácil. Sentia até certo alivio sempre que deixava algo para trás. No começo o mais difícil era arrumar e desarrumar a mala vez após outra. Ultimamente não tem mais se dado ao trabalho, apenas a deixa lá, meio desfeita, meio arrumada. O mais difícil agora são as horas passadas dentro de trens, ônibus e – raramente – aviões. Horas que eram gastas tentando achar desculpas que ainda não havia usado, explicações para toda aquela correria, porque a que sempre repetia – que tudo era culpa do seu espírito livre e coragem excessiva – não estava mais enganando nem mesmo a você. Riu. Coragem era um dos adjetivos que todas aquelas pessoas, de cidades já esquecidas, usavam para te descrever, e você sempre havia aceitado o elogio com uma dose de orgulho e satisfação. Eles dariam tudo para ter a coragem de largar tudo, pensava. E por um momento sentia que tinha algo de especial, que a fazia diferente, invejável até. Tinha a coragem de largar tudo. Então percebia que não existia nada a ser largado. E afinal, o que todas aquelas pessoas poderiam saber? Elas não te conheciam. E ao contrario da opinião geral, sabia que não passava de uma covarde que corria ao mais ínfimo sinal de fogo, mas nunca admitiria isso em voz alta, não poderia acabar com a frágil convicção em que havia forrado todas as viagens. Apenas continuava mentindo para si mesma, com medo de ver todas aquelas desculpas desabarem sobre você. Se permitindo ter, dentro daquela fantasia de aventureiros, ao menos o mínimo possível de felicidade.


Felicidade que sentia sempre que descia na estação de uma nova cidade e dava de cara com o desconhecido, rodeada de pessoas novas e interessantes. Um universo de possibilidades se estendendo aos seus pés. Naquele momento, você se permitia pensar que talvez tudo fosse diferente. Talvez, daquela vez encontrasse um motivo que a fizesse ficar.

Saturday, January 12, 2013

Nós estamos nos perdendo nesse mar de incertezas. Aos poucos estamos nos perdendo em nós mesmos. E quando você se olhar no espelho e não se reconhecer, você irá chorar por quem foi.

Então me esqueça, meu bem. Me esqueça, mas nunca se esqueça.