Sunday, November 24, 2013

Nobody said it was easy

Abriu a porta do quarto e imediatamente se jogou na cama, sem se preocupar com os papeis que amassaria no processo, poderia lidar com eles depois, tudo que ela queria agora era chorar. Era pedir muito? Há um tempo atrás seria uma tarefa fácil, ela costumava chorar com frequência, por cada coisinha que lhe acontecia, cada discussão, cada desilusão, cada dia ruim. E escrevia. Perdia horas trancada naquele quarto minúsculo e escuro, o computador ligado, uma playlist especial tocando nos fones de ouvido e os dedos trabalhando freneticamente para se livrar de todo o peso que havia em seu corpo e em sua alma. Tudo aquilo que a pressionava, retorcia e mutilava era transformado em palavras. Só parava seu pequeno ritual de purificação por breves instantes para limpar as lágrimas que embaçavam sua visão e depois continuava, páginas e páginas e páginas. Páginas de dor. As lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto, sem vergonha ou culpa, quase como um suspiro de alívio.

Mas naquela época ela costumava ser alguém diferente. Alguém cujos sonhos ainda viviam mesmo com toda a desgraça que ocorria ao seu redor. Alguém que vivia no inferno, mas não se deixava corromper por ele.

Esperança.

Engraçado o que um sentimento assim consegue fazer com uma pessoa. Ela encara todos os obstáculos, por mais frágil que seu corpo maltratado seja, sem nunca desistir ou se render, porque sabe que depois da tempestade dias melhores virão. Tinham que vir. Afinal, tinha que existir algo depois daquilo, um local seguro no fim da estrada, um plano maior. No fim, quando ela tivesse passado por toda a miséria, fome e desespero, ela seria recompensada pela sua resistência e então tudo teria valido a pena.

Ingenuidade de alguém que ainda não havia vivido o bastante para testemunhar nem mesmo um terço de toda a maldade que existia no mundo. Hoje ela já não cometia esse erro, não depois de anos presa no mesmo lugar, suportando as mesmas coisas, sem nenhuma luz no fim do túnel. Aquela era sua vida e não havia nada além daquilo, nenhum lugar seguro no fim da estrada – não havia nem mesmo uma estrada –, nenhum plano maior.

Não havia nada, nem mesmo lágrimas. Já não havia mais nada para escrever porque o sofrimento havia se transformado nela. E ela já não era nada mais, apenas a dor que permaneceria mesmo quando levantasse daquela cama bagunçada e voltasse para a realidade, fingindo ainda estar viva.