Thursday, October 11, 2012

Even though I'm full of sin In the end you'll let me in

2 de  março de 2004


Toc toc.

Já era a quinta batida. Ok, apenas ignore. Você consegue, Ali, apenas ignor---

Toc toc.

Talvez eu devesse abrir apenas pra mandá-lo ir embora e me deixar em paz. Não! Essa é exatamente a brecha que ele quer! Ele sabe que você vai fraquejar, você tem que se manter firme, Ali. Firme!

Toc toc. Oh, meu deus. Está chovendo? Toc toc. Toc toc. Toc toc.

Desisti. Peguei uma toalha limpa no armário e abri a fechadura da janela. Teddy abriu um sorriso de orelha a orelha cheio de dentes. Quando ele ria suas cicatrizes se comprimiam e pareciam rugas, era engraçado porque ele parecia um velho e uma criança ao mesmo tempo.

“Pode ir tirando esse sorriso do rosto, Theodore. Isso não significa que eu perdoei você” Joguei a toalha pra ele com a melhor expressão séria que eu tinha enquanto afastava um pouco pro lado para deixá-lo entrar “Você vai molhar meu quarto inteiro!” choraminguei baixo e ele me ignorou.

“Mas isso significa que você não me odeia tanto ao ponto de me deixar lá fora morrendo de pneumonia” O filho da puta enxugou os braços e balançou a cabeça fazendo com que os respingos de chuva molhassem a parte do quarto que ainda estava seca.

“Só porque estou pensando em uma morte mais lenta e dolorosa pra você”

 “Qual é, Ali. Você não percebe que eu te fiz um favor? Você pode ter levado um fora, mas pelo menos agora o Ed sabe que você existe”

Oh, Deus. Ele realmente acha que estava me fazendo um favor!

“Claro, Teddy. Como não pensei nisso antes? Sempre quis levar um fora num corredor lotado pelo cara mais babaca da escola e ainda virar a piada do ano e olha que o ano ta só começando!” Suspirei tentando me acalmar. Teddy tinha feito aquilo com as melhores das intenções, afinal. Talvez na cabeça dele fosse uma coisa boa parar o cara mais gostoso da escola – que era capitão do time de futebol – no meio de um corredor lotado e perguntar se ele não queria ficar com o seu amigo – um zé ninguém – que tem um paixãozinha por ele desde a sétima série, com a namorada do cara do lado. Seria engraçado se não fosse trágico. Mas vai saber como as coisas funcionam na cabeça do Teddy, ele nunca foi muito normal mesmo e aquela carinha de cachorrinho – que ele estava fazendo agora, por sinal – era irresistível.

Bem, não era um problema tão grande assim...

“Você está me perdoando mentalmente agora mesmo, não está?” Merda. Maldito sorrisinho vitorioso. Vou quebrar todos os dentes da sua cara seu loiro maldito e convencido!

“Vai se foder, Theodore” Eu não era muito bom em quebrar a cara de ninguém.

“Ha. Ha. Você já perdoou. Você sabe que não consegue viver sem o lindo do Te---”

“Cala a boca ou eu te jogo na chuva de novo. Vem, vamos jogar vídeo-game. Mas não senta na cama, minha mãe fica puta com cama molhada. E nunca, nunca mais, tente bancar o cupido comigo se não eu acabo de retalhar essa sua cara feia”

Claro que o Teddy se jogou em cima de mim, claro que ele só tem o dobro do meu tamanho e do meu peso, claro que caímos na cama e ele fez questão de molhar o máximo possível.

Ah, Teddy. O que eu faço com você?


Nota: Antigo, postando aqui só pra ficar salvo em algum lugar já que as chances deu acabar perdendo o texto são extremamente altas. E porque a Sara gostou do Teddy.

“Mas vocês nunca dariam certo, Hiroki. Eram perfeitos demais um pro outro. Parecidos demais. Duas pessoas assim nunca dariam certo juntas, havia na combinação de tamanha igualdade a compreensão da completa falta de sentido do mundo, vocês só iriam destruir tudo que conseguissem alcançar e iriam se sentir satisfeitos com isso”

(escrito em janeiro de 2012)

Let the water take us away

Innocent, they swim 
I tell them “no” 
They just dive right in 
But do they know?

Assim que a decisão foi tomada mais nenhum comentário foi feito, não havia o que falar. Eles apenas seguiram juntos para a piscina, a mesma que costumavam brincar na infância. Havia sido há tanto tempo, mas as memórias continuavam intactas, Arthur quase conseguiu visualizar duas crianças correndo por ali enquanto atiravam pistolas de água uma na outra e percebeu que mesmo naquela época, esbanjando inocência, já havia uma cumplicidade ímpar entre eles. A força que o unia ao irmão sempre fora um laço muito mais forte do que o de sangue, era como se suas almas já estivessem entrelaçadas desde antes do nascimento, antes de abrirem os olhos para o mundo frio e sedento que um dia tentaria engoli-los.

Mas mesmo contra esse mundo que não conhecia o amor, eles sabiam que nada poderia separá-los. Foi sem hesitação que seguiram de mãos dadas, olhares cúmplices e expressão serena, que assim como seus traços eram exatamente iguais. Não havia espaço para medo, eles vagavam dormentes entre a paz e a certeza de que aquele era o único jeito.

Eles sentaram na borda da piscina e colocaram os pés na água, sem sentir o frio, apenas a leveza e depois de uma troca de olhares mergulharam em sincronia, imergindo naquele mundo silencioso os libertaria.

Foi Arthur que pegou a algema, prendendo um lado em seu pulso, passando pela barra de ferro da escada, e prendendo o outro lado no pulso do irmão. Em seguida foi Oliver que fez o movimento, puxando-o para um beijo e selando seus destinos.

Não havia mais volta.

Mas nada os preocupava. Bastava encarar o sorriso tranqüilo e sentir toda a força do olhar um do outro para saber que aquela era a escolha certa.


Eles finalmente tinham vencido o mundo. Ficariam juntos, em paz, em algum lugar onde poderiam se entregar verdadeiramente àquela força misteriosa e ao desejo que durante anos fora reprimido.

No fim, eles haviam vencido.


And there's no air or sound
Down below the surface