2 de março de 2004
Toc toc.
Já era a quinta batida. Ok, apenas ignore. Você consegue, Ali, apenas ignor---
Toc toc.
Talvez eu devesse abrir apenas pra mandá-lo ir embora e me deixar em paz. Não! Essa é exatamente a brecha que ele quer! Ele sabe que você vai fraquejar, você tem que se manter firme, Ali. Firme!
Toc toc. Oh, meu deus. Está chovendo? Toc toc. Toc toc. Toc toc.
Desisti. Peguei uma toalha limpa no armário e abri a fechadura da janela. Teddy abriu um sorriso de orelha a orelha cheio de dentes. Quando ele ria suas cicatrizes se comprimiam e pareciam rugas, era engraçado porque ele parecia um velho e uma criança ao mesmo tempo.
“Pode ir tirando esse sorriso do rosto, Theodore. Isso não significa que eu perdoei você” Joguei a toalha pra ele com a melhor expressão séria que eu tinha enquanto afastava um pouco pro lado para deixá-lo entrar “Você vai molhar meu quarto inteiro!” choraminguei baixo e ele me ignorou.
“Mas isso significa que você não me odeia tanto ao ponto de me deixar lá fora morrendo de pneumonia” O filho da puta enxugou os braços e balançou a cabeça fazendo com que os respingos de chuva molhassem a parte do quarto que ainda estava seca.
“Só porque estou pensando em uma morte mais lenta e dolorosa pra você”
“Qual é, Ali. Você não percebe que eu te fiz um favor? Você pode ter levado um fora, mas pelo menos agora o Ed sabe que você existe”
Oh, Deus. Ele realmente acha que estava me fazendo um favor!
“Claro, Teddy. Como não pensei nisso antes? Sempre quis levar um fora num corredor lotado pelo cara mais babaca da escola e ainda virar a piada do ano e olha que o ano ta só começando!” Suspirei tentando me acalmar. Teddy tinha feito aquilo com as melhores das intenções, afinal. Talvez na cabeça dele fosse uma coisa boa parar o cara mais gostoso da escola – que era capitão do time de futebol – no meio de um corredor lotado e perguntar se ele não queria ficar com o seu amigo – um zé ninguém – que tem um paixãozinha por ele desde a sétima série, com a namorada do cara do lado. Seria engraçado se não fosse trágico. Mas vai saber como as coisas funcionam na cabeça do Teddy, ele nunca foi muito normal mesmo e aquela carinha de cachorrinho – que ele estava fazendo agora, por sinal – era irresistível.
Bem, não era um problema tão grande assim...
“Você está me perdoando mentalmente agora mesmo, não está?” Merda. Maldito sorrisinho vitorioso. Vou quebrar todos os dentes da sua cara seu loiro maldito e convencido!
“Vai se foder, Theodore” Eu não era muito bom em quebrar a cara de ninguém.
“Ha. Ha. Você já perdoou. Você sabe que não consegue viver sem o lindo do Te---”
“Cala a boca ou eu te jogo na chuva de novo. Vem, vamos jogar vídeo-game. Mas não senta na cama, minha mãe fica puta com cama molhada. E nunca, nunca mais, tente bancar o cupido comigo se não eu acabo de retalhar essa sua cara feia”
Claro que o Teddy se jogou em cima de mim, claro que ele só tem o dobro do meu tamanho e do meu peso, claro que caímos na cama e ele fez questão de molhar o máximo possível.
Ah, Teddy. O que eu faço com você?
Nota: Antigo, postando aqui só pra ficar salvo em algum lugar já que as chances deu acabar perdendo o texto são extremamente altas. E porque a Sara gostou do Teddy.