Monday, April 1, 2013

And run from them

With no direction
We'll run from them, from them
With no conviction

Era sempre assim. Uma cidade atrás da outra. Um emprego temporário qualquer, pessoas que não conhecia além das saudações formais, uma cidade viva e pulsante sobre os seus pés, desconhecidos em cada esquina, sotaques novos, vozes excitantes, indiferentes, entediadas, ocasionalmente um vizinho barulhento, um prédio em um bairro medíocre, um apartamento apertado e praticamente vazio.


Encarou a janela de seu novo apartamento e se perguntou quando aquilo começou. O que exatamente a havia feito parar ali? Não sabia dizer onde começava, quando dava por si já havia comprado uma nova passagem para a sua próxima aventura. Aventura, dizia a si mesma, é apenas por isso, você queria a emoção que ficar parada em um só lugar não proporcionava, queria conhecer novas pessoas – mesmo que nunca chegasse a conhecê-las realmente, o tempo era curto demais –, ver lugares novos, ter uma vida nova, talvez. Virara uma tradição, quando cansava do local que estava simplesmente escolhia uma cidade aleatória do mapa, arrumava os poucos pertences que tinha – que cabiam perfeitamente em uma mala pequena – e partia. Simples assim.


Alguns diziam que partidas eram complicadas, mas você sempre achou a parte mais fácil. Sentia até certo alivio sempre que deixava algo para trás. No começo o mais difícil era arrumar e desarrumar a mala vez após outra. Ultimamente não tem mais se dado ao trabalho, apenas a deixa lá, meio desfeita, meio arrumada. O mais difícil agora são as horas passadas dentro de trens, ônibus e – raramente – aviões. Horas que eram gastas tentando achar desculpas que ainda não havia usado, explicações para toda aquela correria, porque a que sempre repetia – que tudo era culpa do seu espírito livre e coragem excessiva – não estava mais enganando nem mesmo a você. Riu. Coragem era um dos adjetivos que todas aquelas pessoas, de cidades já esquecidas, usavam para te descrever, e você sempre havia aceitado o elogio com uma dose de orgulho e satisfação. Eles dariam tudo para ter a coragem de largar tudo, pensava. E por um momento sentia que tinha algo de especial, que a fazia diferente, invejável até. Tinha a coragem de largar tudo. Então percebia que não existia nada a ser largado. E afinal, o que todas aquelas pessoas poderiam saber? Elas não te conheciam. E ao contrario da opinião geral, sabia que não passava de uma covarde que corria ao mais ínfimo sinal de fogo, mas nunca admitiria isso em voz alta, não poderia acabar com a frágil convicção em que havia forrado todas as viagens. Apenas continuava mentindo para si mesma, com medo de ver todas aquelas desculpas desabarem sobre você. Se permitindo ter, dentro daquela fantasia de aventureiros, ao menos o mínimo possível de felicidade.


Felicidade que sentia sempre que descia na estação de uma nova cidade e dava de cara com o desconhecido, rodeada de pessoas novas e interessantes. Um universo de possibilidades se estendendo aos seus pés. Naquele momento, você se permitia pensar que talvez tudo fosse diferente. Talvez, daquela vez encontrasse um motivo que a fizesse ficar.